Algumas vezes pensamos que o mar nos mostra sua fúria, mas quem sabe esteja apenas nos dizendo: Cuidado!
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sábado, 17 de dezembro de 2011
Não durma ainda...
Não é hora de dormir ainda, me diz uma voz. Não sei se é da
saudade, da noite ou de minha própria alma. Desperto então
para ouvir a noite ou ouvir o que querem me dizer, na
verdade penso que não tenho nada para ser dito, nem nada
para escutar, mas a voz continua dizendo: Não durma ainda.
As horas passam, não sei se lentas, não sei se brincando de
não querer passar, o tempo é sempre perverso se estamos
chorando nossas dores, passa tão lento que a dor de muito
parece dor de ontem, mas esta noite, pelo menos esta noite,
não tenho nenhuma dor para chorar, então de onde vem essa
voz me dizendo para não dormir?
Vou buscar um copo d'água, aproveito, como um pedaço de
bolo, um bolo que nem sabia se ainda tinha, mas tudo bem,
está até gostoso. Volto para o quarto, o sono, há muito já se foi,
sento na cama, olho a parede toda enfeitada de gravuras de
paisagem, adoro paisagens, mar , por-do-sol, Flores, todo tipo
de paisagem, mas uma me deixa particularmente nostálgico,
não sei por que, são as paisagens de outono, as folhas caídas, o
vento levando-as a toa, e mais folhas caindo,sempre me
perguntei: Será que o outono dói nas plantas? Tenho muitos
quadros de outono.
A noite continua indo embora, devagar mais indo embora,
logo, logo é madrugada. Ah! Sim, e a voz continua dizendo:
Não durma ainda, não durma ainda, e o pior é que não sei
de onde vem essa voz. Agucei bem os sentidos, e acho que
não é de minha alma, nem da noite, mas de qualquer forma
já estou mesmo acordado. Quase dia, um cheiro gostoso de
amanhecer. Algazarra dos passarinhos, a brisa balançando
as flores ainda sonolentas, parece que o dia está se
espreguiçando, parece acordar lentamente, cheio de
preguiça. O sol, lá no horizonte, parece estar fazendo seu
exercício de aquecimento, lá vem ele, rosado Sabe aqueles
gordinhos de coração bonachão, faces rosadas por qualquer
esforço? Assim vem o sol... o sol? É isso mesmo, o sol, e eu
ainda estou acordado mas não ouço mais a voz dizendo:Não
durma. Não consigo entender de onde me vinha essa voz,
bem já é dia, vou tomar um banho, tomar café e ir trabalhar,
mas que dia hem! Por falar em tomar café, será que aquela
menina que me pediu os cinquenta centavos, ontem quando
vinha para casa, estava mesmo com fome? E eu não dei, até
tinha trocado, e se estava mesmo com fome, e se todos a
quem ela pediu lhe negaram como eu.
Será que aquela voz era a minha consciência cobrando
remorso? Que vergonha. Não estou nem com vontade de
tomar café.
José João
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