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quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Do som do mar ao céu profundo





A ponte que de teto se fazia
A quantos ali era abrigo
E choravam suas tantas dores
O que julgavam ser castigo


Ao som do mar ao céu profundo
Pobres, mendigos e vagabundo
De sonhos mortos ao tempo
Se viam a escória do mundo


Perdidos em seu próprio país
Como se um planeta distante
Em que um pão era milagre
Mas a morte uma constante


Mulheres crianças e velhos
Com lágrimas nos olhos eu vi
Solidários por tanta miséria
Dividiam a fome entre si


Enroscavam-se nas noites como sombras
Se dormiam, os pesadelos eram sonhos
E cada noite, que mais lenta se fazia
Cada um pouco a pouco mais morria


Com os ratos podres restos dividiam
E se perdiam no alvorecer da manhã.
Que outro dia diferente lhes seria?
Se a própria vida lhes era, agora, vã.


Hora do café saiam todos, em procissão
Em lentos passos pelo peso da miséria
Ainda assim, o mais depressa que podiam
Se não, para os ratos, o "fausto" café perdiam


Ferrenha luta com esqueléticos cães
Que pela fome de brabos se faziam
E as crianças... dividindo com urubus
Que como irmãos,  do mesmo lixo comiam


Infeliz vida, inverso de valores
Melhor que gente muitos cachorros comem
Que drastica decadencia humana...
O animal que menos vale agora é o homem!


Crianças em flácidos seios penduradas
Sugando da mãe o próprio sangue
Sugando a sifílis espermática
De uma sociedade "democrática"


Fedidas mazelas sociais e imorais
Não são os mendigos, os pobres demais.
São esses que bem se sabe porque
Se fazem manchetes indecentes de jornais


Falsos discursos de mentes apodrecidas
Que até da alma o brio já perderam
Em que as palavras se fazem meros perdidos
Por que nelas, verdade e honra já morreran


Até a justiça, mulher de pureza santa
Com um martelo de carvalho a ela também mataram
E para que não visse seus algozes, verdugos cruéis
Com a própria toga, coitada, os olhos lhe vedaram


Morta a justiça, e por terra, na sarjeta caída
Apenas velada por negros e por pobres
Que tristemente sucumbem a tantos preceitos
Tão forte que é esse tão infeliz preconceito


Se exilado sou no meu próprio país
Por ser negro ou pobre, não posso mudar
Mas quem sabe me guarde uma outra bandeira
De paz, mesmo não sendo esta brasileira?


De tanto a ouvi, até que um dia aprendi
Que uma tal de ventre livre um dia aqui nasceu
De esperança e liberdade houve um grito
Que atrofiado, coitado, logo que nasceu. Morreu


Então me ponho em luta e assim hei de gritar
Não por ser pobre ou negro, mas como herdeiro
De verdadeiros heróis que um dia aqui nasceram
Mas que não sei agora, se realmente foram brasileiros.


José João



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